sexta-feira, 8 de março de 2013

Dar a vida


Como é que eu dou a vida?

“28. Abençoai os que vos maldizem e orai pelos que vos injuriam. 29. Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. E ao que te tirar a capa, não impeças de levar também a túnica. 30. Dá a todo o que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho reclames.”
http://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/sao-lucas/6/#ixzz2MwifSTlo
Terei que ser o cúmulo da passividade, permitindo as injúrias e os roubos?

Talvez seja preciso eu olhar a situação, não na perspetiva da valorização do que me foi dito ou retirado, mas sim dos efeitos a que a minha reação de preservação do corpo e dos bens possa conduzir. Deste modo, não estaria a ser defendida a ação invasora do inimigo, mas uma forma de evitar a guerra, deixando-o roubar tudo (até a vida!), uma vez que “o que tem mais valor” ele não consegue tirar-nos: o ágape.
A Expulsão dos Vendilhões do Templo, 
 El Greco, c. 1600 (pormenor)
No entanto, Jesus não permitiu que vandalizassem o templo, e até recorreu a métodos muito pouco passivos:

“14. Encontrou no templo os negociantes de bois, ovelhas e pombas, e mesas dos trocadores de moedas. 15. Fez ele um chicote de cordas, expulsou todos do templo, como também as ovelhas e os bois, espalhou pelo chão o dinheiro dos trocadores e derrubou as mesas. 16. Disse aos que vendiam as pombas: Tirai isto daqui e não façais da casa de meu Pai uma casa de negociantes.”  
http://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/sao-joao/2/#ixzz2MxFOXYTB
Jesus, porque é Deus, sabe onde está o pecado e age por forma a corrigir a situação. Nós não teremos assim tanta clarividência, mas, mesmo assim, somos chamados por Ele a corrigir o nosso inimigo:

“15. Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão. 16. Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas. 17. Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano.” 
http://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/sao-mateus/18/#ixzz2MxdZdDID
"O conformismo é carcereiro da liberdade e inimigo do crescimento."
John F. Kennedy, discurso na ONU (1961). http://pt.wikiquote.org/wiki/Inimigo

Contudo, deste modo, ficamos perante um paradoxo - pois é impossível dar a outra face e simultaneamente repreender ou chamar uma testemunha.

O que fazer?

Como sabemos, a linguagem escrita não traduz a realidade, é tão-somente um recurso humano aproximado para apoiar a comunicação. Parece-me assim, que os “exageros” decorrentes de uma leitura literal, que põe na boca de Jesus um incentivo à passividade, possam ser interpretados como um recurso estilístico conducente à evidenciação da ideia de que a capacidade de se dar, de partilhar deve ser em relação a tudo (veja-se a passagem bíblica do pai que é chamado a entregar o seu filho), pois nada é verdadeiramente nosso - somos de Deus.

Enfim, vejo o exemplo e as orientações de correção de Jesus dados como uma lição, que devemos pôr em prática perante as injustiças, na luta pela liberdade e pela igualdade, o que não põe em causa a misericórdia e pressupõe uma enorme capacidade de perdoar.

E porque a ironia é uma arma mais forte do que a raiva, convém não esquecer:
"Nunca deixe de perdoar seus inimigos, nada os aborrece tanto."
 Oscar Wilde, http://pt.wikiquote.org/wiki/Inimigo

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